Quereres

  Tinha um objetivo, desde muito pequena, na minha cabeça e sabia que ia alcança-lo. Sempre soube e sempre que eu sei, sei e é.
  Pensava nele todos os dias, de como atalhar para lá chegar mais rapidamente, saltando acrobaticamente por cima dos passos que todos me diziam que eram necessários para atingir o que eu queria. Mas não passavam de pensamentos nem de passos que hoje sei que não me ensinaram nada que me faça ser melhor ou escolher melhor, eu sabia que o momento era quando eu soubesse.
  Certas manhãs pulava da cama e pensava comigo "é hoje, é hoje, há pressa", mas no fundo sabia que este acordar era apenas em gesto de encorajamento e que ia acordar assim mais mil vezes, mesmo que só abraçasse aquele dia uma vez num futuro distante.
  A pressa era relativa, não corri nunca... Apressei o passo umas quantas vezes mas correr ia-me deixar atarantada e atordoada ao chegar ao grande objetivo, assim não me ia aperceber da emoção e da felicidade, chegaria despenteada, suada e ofegante. E não podia ser, eu tinha que lá chegar em bom e no meu melhor...
  Há momentos como este pelo qual lutei sempre que são os nosso prémios, louros que só nós podemos receber e conquista que só nós podemos celebrar.
  Não corri nunca, até aquele dia. Porque parei de achar que tudo era um sonho, olhei como quem vê (finalmente) à minha volta, como se eu não fosse eu e estivesse do lado de fora. Havia tanto de errado e eu não merecia tanta coisa má ou boa, porquê a mim? Eu, que só queria uma coisa da vida, tinha tanto mais e tanto por fazer e pensar e do que me orgulhar.Havia tanto pelo que correr. Então parei de ser vidrada no meu objetivo e decidi agarrar o resto. Consegui por um longo tempo, sorri e celebrei tanto e mais e melhor que antes, mas mesmo assim não foi suficiente porque algo me transportou de novo para o meu sonho... Para a lentidão dos dias, para a pressa de outras coisas que não o sorrir, para a pressa do concretizar algo.
  Não ia nunca virar a página para algo diferente, melhor, mais feliz sem terminar isto.
  Voltei à minha rotina que me comia aos poucos, que me perdia partes do "eu" que gostava de ser, deixava-me em segundo plano na minha vida mesmo que fosse só eu quem importasse e fosse o meu querer que regia tudo. Eu punha-me em primeiro, segundo, terceiro, deixando o que eu gostava mais de mim ficar no fundo.
  Depois de tudo, seria um final demasiado triste se não tivesse chegado ao fim, por isso eu cheguei. Não me senti completa, não me senti realizada, senti-me ridícula. Mas tinha que retirar disto algo, que se resumiu a uma lição para sempre. Eu sou e serei assim, o que eu decidir que quero fazer ou ser vai-me levar toda a energia, e vou passar sempre muito tempo a pensar e repensar se o que me leva a energia vale mesmo a pena porque há sonhos e há quereres.


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